Almaty - Astana by train
Wake up in the night, while dawn was still sleeping, with the sparkling that comes up to my pores when a train travel rises up in the horizon. His smooth and syncopated movement relax my full body, while the nowhere landscape existing between stations that slides way continuously in the window greatly stimulates my brain, my memories, my perception of the world history. Moreover, the train never confines my space and opens his doors in every station, giving me that sense of freedom on what my mind was built. That is why, the train has always been my preference for travelling.
Bubbles boil in my memory, the first travel on my own (15-16 years old) that started precisely in the mythic Portuguese Douro Railway line that follows the river with the same name, through a really incredible landscape that reports you to the origin of things. After that I have done the same with other two river lines (Tagus and Tua rivers), crossed Europe in the interail in my first big journey abroad, fell in love with La Trochita a historical coal train of the beginning of settlements in Patagónia, cut the Tramuntana (Mallorca Mountains) in a train that seemed to come out of a movie, and I was a lucky mother F… when, on my line of work at MOTA-ENGIL, I fell deep in the Nacala (Malawi) and Sena (Beira – Moatize, Mozambique) lines, within the coal railway paths, where I learn my love for Africa. Finally, i will have the Trans-Siberian and Orient Express lines permanently in my horizon, while i don´t slide on them.
The Famous Turk-Sib (Turkestan – Siberia) line, ended in 1930 passes through Almaty, and that was a temptation to me, but the path would get us away of Astana and Borovoie, marked destinations of our trip. As so, we picked up one parallel line that links the Turk-Sib and the Trans Siberean lines and passes through Almaty, Karaganda (important city of the coal) Astana, Borovoie before crossing the Russian border. Fantastic choice. 15 h riding in the immense infinity of the Kazak steppe, touching the incredible Laka Balkhash and mixing my nomad soul with the nomad nature of the country (the origin of the name Kazakistan was given by the neighbours to the nomads that live there and means those without ceiling), under the sounds of Monk Turner & Fascinoma (Watcha Doin) and Cletus Got Shot (Bummin Around)
The trip ended with our arrest by the local Police because we were caught smoking in a forbidden zone:
“Let´s scare them” was the tought of the entire guarrison of the station that surrounded us, threat us with a Gulag and finally freed us in a magnanimous gesture. And so, there was done another train trip that nobody can take away from me
Acordo ainda de noite com aquele fervor que uma boa viagem de comboio sempre me trás, desde que o meu corpo sabe o que é viajar. Relaxa-me a continua massagem para o meu corpo dada pelo seu ronronar sincopado e, simultaneamente, estimula-se-me o cérebro e a criatividade ao deslizar pelo nenhures que habitualmente existe entre estações. Sobretudo encanta-me que nunca me aprisione o espaço e a porta para sair se abra em todas as estações, emprestando uma sensação de liberdade tão a jeito da minha alma que nenhum outro meio de transporte consegue assegurar. Por isso, o comboio sempre esteve no meu top de preferências.
Borbulham na minha memória as primeiras férias que passei completamente por minha conta, ao redor dos meus 15-16 anos, partindo na mítica linha do Douro, que serpenteia pendurada na margem do rio com o mesmo nome em direcção à fronteira com Espanha. Verdadeiramente, foi essa a minha primeira viagem. Além dessa, que saboreei muitas vezes depois dessa primeira, deslizei por outras duas linhas que languidamente se espraiam na paisagem fluvial de 2 outros rios portugueses, o Tejo e Tua. Cruzei a Europa em inter-rail na primeira grande viagem para fora de Portugal. Deliciei o coração e definitivamente me apaixonei pelo comboio, na mítica La Trochita, um comboio a carvão que enriquece a paisagem de Esquel a Nahuel Pan, na Patagónia, e me fez viver a conquista do mundo novo. Cortei a Tramuntana, (complexo montanhoso que domina a ilha de Mallorca, Espanha) num comboio que parecia de brincar (ferrocarril de Soller). Por um par de vezes me caiu ao colo a felicidade de o meu trabalho na MOTA-ENGIL me ter atirado, primeiro para a linha de Nacala (troço no Malawi) e depois para a linha do Sena (Beira-Moatize, Moçambique), onde bebi o verdadeiro perfume de África e onde aprendi a amar esse fantástico continente. Além disso, persigo ainda, há anos, os 3 transiberianos e o Expresso do Oriente que, por ainda não concretizados, não me saem da cabeça.
Aqui à mão, tinha a famosa Turk-Sib (Turquestão-Sibéria) pensada para escoar o algodão e concluída em 1930, que passa precisamente em Almaty, mas o destino afastava-nos de Astana, um dos destinos da viagem. Saímos numa outra, paralela à primeira, que passa por Almaty, Karaganda (cidade mineira muito importante na economia do Cazaquistão) Astana, Borovoie, atravessando depois a fronteira em às linhas Trans-Siberianas. Boa aposta porque a viagem foi espectacular. 15 horas cavalgando na imensidão infindável da estepe do Cazaquistão, tocando o incrível Lago Balkhash e mesclando o meu sentido nómada com a nómada natureza deste país. Essa natureza é, aliás, expressa no nome do país que significa "terra dos sem tecto", nome atribuído pelos países vizinhos aos povos nómadas que habitavam aquela zona. A sedentarização desses povos só viria a ocorrer com a regulação soviética, isto é, há cerca de 100 anos atrás. E nesse ritmo compassadamente romantico, lá fui disparando a minha Canon, captando o deslizar daquela paisagem, que agora embrulho com a música de Monk Turner & Fascinoma (Watcha Doin) e Cletus Got Shot (Bummin Around)
No final, à chegada a Astana, esperava-nos a detenção policial por fumarmos fora do sítio.
“Vamos lá pregar um susto aos moços”, pensou toda a guarnição policial da estação que nos rodeou, nos “ameaçou com um Gulag” e depois magnanimamente nos libertou.
E assim se fez mais uma viagem que já ninguém me tira.
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