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domingo, 10 de maio de 2009

A PhD on the Road (Tibete)

Me and my father, with the same age

My father lived a complete and true life, full of committments, and with coherence of an intelegent man. I recognize it today, with no difficuly, now that i´m with the same age he was when we were in the strongest of our generation fight. The usual in a relationship between a father and a son, exactly what i´m living today with my own son. Me, full of energy, looking for a revolution in the way of thinking, criticizing everything about him. We were always different, quite opposite in our way of walking through life, and so we were walking away (that´s what i tought), with me trying to do everything upside down, incapable of comunicating. Only Fight.

However since i was 6 years old,  he had found, with wisdom, a time and a place where all this would disappear and we could be together by our instincts, as if nothing else exist. The MOUNTAINS, and the Salt and Pepper of climbing, that sport i learn from him to love and he pratice until late in life. So many dreams i dreamt in those mountains of Gerês, just like our João Garcia told in some of his books (i can feel exactly what he is trying to tell, because i can easily penetrate his soul). Like him i dreamt that one day i would be a climber of the highest mountains. but i guess i believed that would't be possible to reach. João got there, i followed a different path, but the soul is the same.

There, in Gerês, we live in harmony, and he took those moments to teach me what really was important in life. Amazing, the way we turn this to be possible, in the middle of our terrible fights, and how we showed our love, care and respect for the qualities of each other.
 
There in Gerês, i was told about the fantastic adventures of Edmund Hillary and Tensing Norgay, Gaston Rebuffatt, Maurice Herzog and that fantastic photographer-climber, Leonel Thairray. 

There, i learn all about liberty to choose your own direction, the capacity of thinking on my own, the persistence you need to live a coherent life, and most of all, that your mistakes are no more than a way to be sucessful. That was the legacy from him. 

Then i left, to live my life, and our ways split apart. with a permanent fight between us. Fortunatly, 1 week before he died, i went to his room in the hospital, ask everybody to leave us, lay down my head in his chest and whispered how proud i was to be his son. We stayed like that for 10 minutes, in silence and in peace and i left again. He died 1 week later with my sweet sister telling him the story of his last climbing with no rope,  "piton", "mosqueton" or "boudrier". I was not there, but i´m sure he saw me climbing after him. Someday i´ll reach the platform where he is now. 

The mountain is, thus, the place he found for ourselves to be together whenever we feel like it. So i picked up my bagpack, with Rodrigo Correia & Gué as my Sherpas, and we moved through Nam Tso, Shigatze, Gyantze until Everest base camp. To be with him, and learn with him how to be with my elder son. 

This time the pictures were taken by Rodrigo and Gué, and the emotions are given by U2 (Walk on)

Until the end of the world, my friend

O meu pai teve uma vida plena, cheia de cometimentos, e com a coerência de um homem inteligente. Reconheço-o hoje, sem dificuldade, agora que tenho a idade que ele tinha quando estavamos no auge do nosso confronto. O costume na relação entre um pai e um filho mais velho.Tal como o que hoje vou vivendo com o meu filho.  Eu, cheio de garra, procurando um rejuvenescimento de maneiras de pensar, criticando tudo e mais alguma coisa que ele fazia, massacrando os seus defeitos mais profundos. Fomos sempre muito diferentes, antagónicos mesmo, e eu queria fazer tudo ao contrário do que ele me dizia. E assim, pensava eu, iamo-nos afastando cada vez mais, numa incapacidade de comunicar, de alimentar a relação pai-filho, que não fosse pela discussão. 

Contudo, desde os 6 anos que ele, com a sabedoria que eu não podia ter, encontrara um lugar onde os dois esquecia-mos tudo isso e o instinto nos unia, como se não existisse mais nada do que aqueles momentos. A MONTANHA, e a "pimenta" da escalada, esse desporto radical que eleme ensinou a amar e praticou até bem tarde na vida. Muito sonhei nessas montanhas mágicas da minha juventude, sonhos parecidos com aqueles que mais tarde vi o "nosso" João Garcia" contar (por isso eu considero-o muito meu, porque com frequência me consigo meter dentro da sua alma). Também eu sonhei que seria um alpinista de alta montanha, mas acho que nunca acreditei que isso fosse possível. O João chegou lá, eu segui outro percurso, mas a alma é parecida.

Aí, no Gerês, vivemos em harmonia, e ele aproveitava para me ensinar o que realmente era importante na vida. Surpreendente a maneira como tornamos possível e como com feitios tão antagónicos demonstrava-mos apreço e admiração sincera pelas qualidades de um e do outro. 

Aí, no Gerês, conheci as fantásticas aventuras do Edmund Hillary e do Tensing Norgay, do Gaston Rebuffatt, do Maurice Herzog e desse fantástico fotógrafo alpinista, o Leonel Thairray. 

Aí, aprendi a liberdade de escolha, a capacidade de pensar por mim, a persistência e que os erros que cometemos não são mais do que insucessos que um dia levarão à plenitude. Muito disto a ele devo. 

Depois eu parti e as vidas foram-se separando, sempre com o antagonismo latente. Felizmente, uma semana antes de ele morrer, fechei-me sozinho com ele no quarto do hospital, deitei a cabeça no peito dele e segredei-lhe o orgulho que lhe tinha. Ficamos assim uns 10 minutos e depois eu parti de novo. Ele morreu uma semana mais tarde, de mão dada com a minha doce irmã Isabel que lhe segredava a última escalada que ele estava a fazer. Desta vez sem corda, nem "piton" ou "mosqueton" ou "boudrier". Eu não estava lá, mas tenho a certeza que ele me viu esperando que ele parasse num patamar para então escalar eu. E, um dia, tenho a certeza que hei-de chegar outra vez ao patamar em que ele está agora.

A Montanha, é assim o espaço que ele arranjou para nós podermos estar juntos sempre que quisermos. Em harmonia. Por isso, meti pernas ao caminho com o Rodrigo Correia & Gué como meus sherpas, através de Shigatse, Gyantse e Nam Tso  até ao campo de base do Evereste. Para estar com ele e aprender com ele a estar com o meu filho mais velho.

Desta vez as fotografias ficaram a cargo do Rodrigo e da Gué e as emoções a cargo dos U2 (Walk On)

Até sempre, amigo

8 comentários:

myself disse...

Na montanha, ou para lá dela, o nosso pai está sempre, sempre lá (aqui)

Nuno Cruz disse...

É mesmo. Tanta coisa boa quem vem dali

Um beijo imenso para ti

Anónimo disse...

No comments... porque me fizeste pensar nestes momentos unicos que passamos lá em cima. Que o mais importante é a alma, o pensar, o sermos "nós" com os defeitos e qualidades inerentes. E principalmente percebermos que, em momentos extremos, dependemos uns dos outros (obrigado Rui pela Boleia do Vidoal para Leonte!:) )". Ou apenas, que a parte mais bonita é ver o reflexo do cume nos olhos do companheiro!
Abraço,
M

Nuno Cruz disse...

Olá meu M

As tuas palavras são como a montanha, carregadas de emoção, de preencher uma alma e um coração. Gosto que tenhas vindo aqui, partilhar tudo isso que está na nossa essencia, e que ele fez vir ao de cima, simplesmente porque lá nos levou e encantou. E com isso arranjou entre nós o mais forte ponto de união.

Um abraço apertado, apertado.

E um beijo enorme porque consegui ser teu pai de uma forma que talvez nunca consiga ser com o meu Migo. E gostava tanto que assim fosse. Simplesmente isso não parece possível. Talvez seja mesmo assim a história do pai e do filho mais velho.

Por isso sempre te peço. Vive com ele como eu vivi contigo, para que ele possa ter esse lado que nós tivemos

PATITA disse...

Gostei muito... e o teu pai também
Beijos
Patita

Nuno Cruz disse...

Olá minha patitinha do coração

Obrigado pela tua visita e pelo aquecer do coração

Um beijo para o meu Faria
Dois beijos para os filhotes

Um beijão imenso para ti

Cárin disse...

Sem dúvida este é um dos textos que mais toca no coração e desperta sentimentos de compaixão e saudade. O filme está bonito com a diversidade de cor e imagem das fotos, mas o texto demonstra um sentimento inabalável.
Sei que vive a vida com muito sentimento e emoção "á flor da pele", e demonstra-o com grande simplicidade neste texto.
Gostei muito!
Só mais uma coisinha, sei que a relação com seu Migo terá sempre os seus altos e baixos, mas de certo que vão conseguir dar a volta, mesmo quando parece estar má a situação. Pois sei que vai arranjar uma forma de falar, de interagir, qualquer coisa… que o Migo vai entender, pois tenho a certeza que é o ídolo dele.
Bjs grande da Pequinita.

Nuno Cruz disse...

Tu vais me conhecendo cada vez mais fundo, o que é um bom espelho para mim. Aquilo que eu cada vez mais sei é que as coisas tem um significado intemporal, indepedentemente do significado que lhe atribuimos num determinado tempo.

Um beijo grande e obrigado pela tua proximidade, afectividade, intmidade.