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sexta-feira, 12 de outubro de 2012

ISLANDS OF HOPE - The Power of Music

Fogo, Cape Verde

Solange truly believes in her soul that comes from the music. Descending from a lot of different artists (originary from very different places of Africa and Europe) that crossed the times with Violão, Viola, Cavaquinho, Gaita or percussions, living with intensity either the hunger or abundance, the joy or sadness, the freedom or, in its absence, breathing through it their own mind sanity. Solange inherited all that, mixing the various flavours inside herself, and living it in a so deep instinct, responsible for its own existence. In that sense, she can speak any dialect, from Morna to Coladera, Colá, Funaná or Tabanca, couloring its day by day with adequate music, as if it was a good movie. The history of her family, melting perfectly with the history and origins of the Cape Verdian music, crosses the multi-culturality arising from the different (African) origins that step on the island during slavery times and settled for good, or the rooths from the Portuguese Colonial Empire, which bring the european culture of music, although trying (without success) to clean african music out from the society. In Solange’s souls, attitude and life, all these influences are imprinted, giving brightness to her heart and a gracefulness to her voice. Many times, friends tried to convince her to embrace a singing career, but she have always refused, saying:

“I’m not an artist, like Cise (Cesária Évora), Tito (Paris) or Mayra (Andrade). No, I have not that soul. The music is just my way to breathe, to speak, to live happily ever after. I would lose my smile and my life, if i give it to sell. A kind of prostitution, I would say”.

As so, she lives in the big crater of Fogo Volcano (1700m height), renting the roof and guiding tourists or professionals up to the immense cone that rises up to 2800m height. Music gives her the happiness she needs, as much as any money, to have a sustainable life. Because my soul completely understands her way, the music, the emotions and happiness coming from them, I went to her to guide me to the top of the volcano (which undoubtly I had to climb). Unfortunatly, that was not possible due to her own schedule, but she invited me to stay in her house and found out a nice guide, Nézito, to go with me. By dawn, I was climbing this tiring and huge path (1100m in 3 hours) of tears of rock and boulders coming down from the top of the volcano, with our late night conversation in my mind. At the top, the usual flavour of the conquest (i´ve been at the top of some volcanoes up to now… Pacaia, Orizaba, Copahue, Etna and “our” volcanoes in Azores), but this time I was caught by surprise in the way back. An astonishing running down the hill over a 800m height (the first 300m are in rock massif) and steep dune of volcanic sands, as you can see in the movie. FUNTASTIC. Hearing in my mind her voice singing Lua nha testemunha (Cesária Évora) and Poema Tropical (Tito Paris), all the way up and down.


ISLANDS OF HOPE - The Power of the Music from nunocruz on Vimeo.

Solange acredita muito na alma que lhe vem da música. Descende de uma plêiade de artistas que cruzaram os tempos, ora com violão, com viola, cavaquinho, gaita ou percussões, vivendo com intensidade a fome e a fartura, a alegria e a melancolia, a liberdade ou, na falta dela, respirando através da música a sua sanidade mental. Cruzando os percursos da história do arquipélago. Solange sempre tivera a musica dentro de si, desde a mais tenra infância, num instinto tão profundo que lhe dava a existência. Nesse domínio falava qualquer dialecto, desde a Morna à Coladera ao Colá, Funaná ou a Tabanca, permitindo-lhe colorir o seu dia a dia com a musica adequada ao sentimento que lhe vai na alma, como se de um filme se tratasse. A história da sua família, toda ela dada à música, talvez misturando-se com a própria história da musica de Cabo Verde, atravessa a miscigenação musical das imensas culturas, desde as de origem africana que ali se cruzaram no tempo dos escravos e por ali perduraram, até aos tempos do império colonial Português que trouxera a musicalidade europeia, embora tentando (em vão) apagar as primeiras (africanas) do registo social. Na sua alma, na sua atitude e na sua vida jaziam todas essas influências que lhe coloriam o coração e davam graça à sua voz. Muitas vezes a tinham incentivado a seguir uma carreira musical, tal a qualidade e originalidade da sua voz, recebera mesmo convites da América e de Portugal para iniciar uma carreira (através de amigos que lhe cruzaram os passos), mas Solange sempre recusara dizendo:

“Não, eu não sou artista. Não tenho alma de artista, apenas a alma da música. A música é a minha forma de falar, de respirar, de viver feliz. Perderia o meu sorriso e a minha vida se a pusesse à venda. Seria uma espécie de prostituição.”
Por isso vive na cratera grande do vulcão do Fogo (a 1700m de altitude), alojando e guiando turistas ou profissionais até ao imenso cone que se eleva desde a sua casa até a uns incríveis 2800m. A música dá-lhe a felicidade, que precisa tanto como do dinheiro, para viver sustentadamente. Porque a minha alma sente com facilidade isso tudo, a música, as emoções e a felicidade que delas advém, procurei Solange para me levar ao topo do vulcão, que inquestionavelmente tinha de subir. Infelizmente já tinha o tempo marcado, mas deu-me guarida por uma noite, e arranjou-me um guia, o Nézito, para me acompanhar. Pela madrugada encetei a impressionante e estafante subida (1100m em 3 horas) sobre as lágrimas de rocha e pedregulho que descem do topo do vulcão, acompanhado dessa conversa sob o luar com a Solange na noite anterior, numa impressionante imagem de sincera felicidade. No topo, o habitual sabor da conquista (já subi a uma boa série de vulcões, o Pacaia, o Orizaba, o Copahue, o Etna, os do nosso Açores, entre outros), mas depois fui surpreendido pela descida, essa sim verdadeiramente diferente. Contrariamente ao costume o ponto alto desta expedição não é atingir o topo, mas a sua descida numa impressionante correria sobre areias vulcânicas. Cerca de 800m (o primeiro terço da descida é em rocha) de “duna” de areia solta e com inclinações impressionantes, como poderão ver no filme. FUNtástico. Com a musica da Cesária Évora (Lua nha testemunha) e do Tito Paris (Poema Tropical), imaginado-a pela voz da Solange.

3 comentários:

Anónimo disse...

"The (...) is just my way to breathe, to speak, to live happily ever after. I would lose my smile and my life, if i give it to sell (...)" Solange (a tua personagem real ou ficticia...).
Tocou-me especialmente...
Beijinho

"Xabeli"

Anónimo disse...

Gostei. Gostei mesmo muito desta e da anterior.
Um abraço.
Inácio

Nuno Cruz disse...

Obrigado aos dois por me darem "feno" para continuar a contar a história. É tão bom afastar a cabeça deste mundo miserável em que caimos, cheio de injustiça, patifaria, gatunagem com colarinho "limpo", e verificar que é possivel viver doutro modo. É isso que gostaria de saber transmitir e ajudar a difundir. Um mundo em condições. Será uma miragem?