Secundino had loved Solange even before meeting her.
The history had started with those usual tricks that everybody that travels by plane in Cape Verde is used to. A delay in the depart from Santiago made him lose the plane to Lisbon, to where he was going chasing an opportunity that he had created with some persistence. As a consequence, he was thrown to one of those inumerous resorts of the island while waiting for the next flight, that would be in two days. With the calm so typical of him as of any cape-verdian soul (that seem to accept everything in a cool mode, even if a piano just fall in front of them), he slided to the beach for a swim and stayed there enjoying time until he noticed the moon already so high. In his way to the restaurant for dinner, suddenly he was assalted by a voice that penetrated deep in his soul, which he then followed the voice by instinct until the bar of the hotel, where he saw a young girl singing between friends. Not knowing exactly what doing, he seated there losing the notion of time, until the group left the place. In the way out she had launched a smile towards him ((later she would tell him that she was really amazed with him staring at her from the first moment, as a statue), and by instinct he followed the group until her room.
"Do I see you tomorrow?", he heard himself asking, anxious about the answer.
"At 9.oo at breakfast. I have a plane to S. Nicolau at 11.00", she answered, always with this magnificent smile.
Secundino went to his room and felt asleep "lullabied" by that voice that entered in his life to never go way. He woke up a couple of hours late with that happy anxiety, having that deep feeling never experienced before. Pure, inocent, even childish, far beyond the love of the legacy that had shaped his own life.
And at 9.00, he was already seat in the breakfast saloon (with the sound of Mayra Andrade-Li Dente é Tchéu), with a plane ticket number to S. Nicolau in his pocket, the trip to Lisbon definitively aborted and the conquered opportunity lost for good...
ISLANDS OF HOPE - Flirting with Life from nunocruz on Vimeo.
Secundino amara Solange ainda antes de a conhecer.
Tudo começara numa daquelas peripécias habituais de quem depende do transporte aéreo cabo-verdiano para se movimentar. Um atraso na saida de Santiago fizera-o perder o voo para Lisboa, para onde ia com o fito de atacar uma oportunidade que lhe surgira. Em consequência, fora atirado para um dos incontáveis resorts da ilha, enquanto aguardava a próxima ligação, daí a dois dias. Com a genuina alma cabo-verdiana (que parecem sempre aceitar sem stress o que vai ocorrendo, mesmo que um piano lhes caia à frente), deslizara calmamente para um mergulho na praia, distraindo-se depois com as horas, "acordando" com a lua já alta. Passara pelo quarto para uma banhoca e já a caminho do restaurante sentira de súbito uma voz que lhe estarrecera a alma. Estacou, procurando saber de onde vinha aquela voz de sereia que o fazia vibrar incontrolavelmente, tal a intensidade melódica, e que lhe parecia conhecer desde há muito. Estugou o passo e seguiu-a até a encontrar no bar do complexo, cantando entre amigos. Sem ter noção do que fazia, deixou-se pura e simplesmente ficar por ali. Mandara vir qualquer coisa quando o empregado se lhe chegou, mas só muito mais tarde repararia no prato colocado na sua frente. O tempo parara simplesmente inundado por aquele prazer imenso que o assaltara, ficando assim ali até ao fim da noite. Já à saída ela lançara-lhe um sorriso (mais tarde disse-lhe que ele esteve fixo nela desde que entrara no bar), e ele guiado apenas pelo instinto saira atrás seguindo-a (e ao restante grupo) até ao seu quarto.
Vejo-te amanhâ?, perguntara-lhe inquieto e ansioso com a resposta. Sempre sorrindo, ela acenara que sim. "Às 9.00, que tenho avião às 11 para S. Nicolau".
Secundino adormeceu embalado por aquela voz que lhe entrara para não mais sair. Acordou umas horas depois com essa ansiedade feliz que lhe assolava a alma e que lhe fazia sentir uma coisa lá dentro que nunca experimentara antes. Pura, inocente, infantil, bem para lá do amor de herança familiar que lhe fizera a vida.
E ao bater das 9.00 já estava ele sentado com um sorriso inquieto no salão do pequeno almoço, ao som da Mayra Andrade (Li Dente é Tchéu), com um nº de bilhete para S. Nicolau na mão, a viagem para Lisboa definitivamente abortada e a oportunidade de vida conscientemente abandonada...
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